terça-feira, 26 de junho de 2012

Com a palavra o Coronel Juvenal, o dono do São Paulo!

O protesto da queda. Ou queda do protesto?


Por - Celso Santos

Estamos num momento de instabilidade no São Paulo Futebol Clube. Não pela derrota recente, ou eliminações no Paulista e Copa do Brasil. Estamos nessa maré desde os títulos Brasileiros, devido à soberba de nossos dirigentes e sua má administração.

Nossa torcida, em geral, fechou os olhos enquanto ganhávamos títulos ou, até 2009 pelo menos, quando ainda brigávamos por algo e tínhamos conquistas recentes. O pão e o circo da Roma antiga voltaram à tona e o torcedor foi lubridiado com uma bela estrutura e títulos nacionais, que ocultaram as manobras políticas no clube e brigas internas no elenco e comissão técnica.

Não estudei psicologia, mas me interesso sobre relações humanas e psicanálise. Na frase “não há instinto do conhecimento e da verdade, mas somente um instinto da crença na verdade; o conhecimento puro é destituído de instinto”, o filosofo Nietzsche define bem como é o sentimento do ser humano quando tudo esta conforme nossa verdade, ganhando títulos e um modelo de gestão ‘diferenciado’ até então. É a crença da nossa verdade, fechando nossos olhos em muitos momentos da vida, inclusive na política nacional.

Voltando ao momento atual do São Paulo, o que vemos é um treinador demitido, um mercado sem opções financeiras viáveis, uma diretoria incapaz de criar soluções criativas para comissão técnica e elenco, jogadores desmotivados e um presidente que, apesar de toda a pompa e mudança de foco a cada entrevista, se mostra cada vez mais perdido no comando e retrogrado em sua gestão, que por sinal já devia ter acabado.

É da natureza humana o instinto de defesa, de ir contra o que pode machucar, ferir, ir contra os sentimentos e princípios, a moral e verdade nossa de cada dia. E isso vai desde o risco à vida até mesmo de uma paixão cultural, como o futebol, ou o fanatismo além da crença.

Porém, quando o instinto vem de uma massa, é necessário um planejamento, um entendimento. E nós somos uma torcida que não se entende. Entre setoristas, blogueiros e torcedores, há alguns ditadores da estirpe de Juvenal Juvêncio, que ditam como os demais torcedores devem agir e pensar. Estamos numa democracia! Ou pelo menos assim deveria ser.

Acho uma ideia muito boa o #MorumbiVazio. Mostrar a insatisfação e ter um dia de estádio vazio é algo assustador para a diretoria, comissão técnica e jogadores. Mas o que me assusta é qual a finalidade do protesto? É saudável e pacifico, mas os jogadores precisam de apoio para sair dessa situação e os principais alvos, que deveria ser direção e presidente, não serão afetados.

Ao contrário, estamos afetando o clube que, sem patrocínio, ainda vê a possibilidade de desvalorização da marca, da exposição das placas de publicidade, da geração de renda, da queda do consumo em pontos comerciais do estádio, desvalorização de jogadores, entre outros fatores.

No futuro isso pode virar diminuição da torcida, queda nas vendas de produtos oficiais e jogos do PPV, além da exposição de jogos na TV aberta, desestabilizando o clube ainda mais em médio prazo.

Quando queremos o bem do nosso clube e decidimos tomar uma ação, é louvável. Porém, devemos pensar sempre nas consequências que isso pode acarretar, pois, com tudo isso, o time fraco e instável deste ano, pode estar numa situação ainda pior na próxima temporada. É entrar num buraco e continuar cavando!

Não é uma oposição ao protesto #MorumbiVazio. É uma crítica construtiva para planejarmos protestos e ações estruturadas, que deem resultados e não afetem o clube e sim os responsáveis pela situação vexatória que se encontra o Maior do Mundo.

É uma crítica aos torcedores que se acham donos do clube e querem impor algo aos que não concordam com esse protesto, mas também aqueles que não buscam saber o intuito deste e se opõem dizendo que vão ao estádio.

Quem quiser ir ao estádio, só precisa comprar o ingresso, não necessita armar discussões e conflitos virtuais e reais. A torcida tricolor, historicamente, já possui diversos jogos com menos de dois ou três mil torcedores mesmo. E não era protesto, era um dia normal.

Já dizia Henry Ford: “Se existe um segredo para o êxito, compreende na capacidade de apreciar o ponto de vista do próximo e ver as coisas deste ponto da mesma maneira que vemos de nosso ponto”. Nossos lideres de torcida organizada, formadores de opinião de veículos voltados ao clube e torcedores em geral, necessitam trabalhar em conjunto e planejar ações orquestradas para solucionar os problemas do clube.

A queda de Leão não representa uma vitória do protesto, pois Juvenal Juvêncio só não havia demitido Emerson Leão por falta de opção no mercado. Essa demissão é uma mudança de foco e um afago de Juvenal na torcida insatisfeita.

Apoiarei qualquer protesto e ideia que tiver fundamentos claros e propostas para solucionar o problema do clube. Se a ideia é desmoralizar um treinador que já não esta nos planos do time ou procurar jogador culpado no elenco, não farei mesmo questão em me mobilizar. É atuar no efeito e não na causa do problema.

Porém a discussão deve ser sempre ideológica e não moral, social ou física. Sejamos práticos, inteligentes e democráticos. Se quisermos ser um time diferenciado, sejamos também uma torcida diferenciada.

Celso é Engenheiro, administrador do site Soberanos, integrante da equipe esportiva do site Sempre Tricolor e colunista do site Tricolor News e do blog do Marcelo Bigatto.
Twitter: @Cel_Ss
Email: celso@soberanos.com.br