segunda-feira, 21 de março de 2011

É PROIBIDO PROIBIR


Por - Viviane Mariano

Mãe: Filho, o que tá acontecendo ali na porta do Flamengo?
Filho: Ah mãe, é um protesto pro Adriano voltar!
Mãe: Para a Vila Cruzeiro? Li que ele agora está na Mangueira, né?
Filho: Não, mãe, pro Flamengo!
Mãe: Ué. E precisa de protesto pra isso? Não vai ser bom ele jogar com aquele outro? Como é mesmo o nome dele?
Filho: Ronaldinho Gaúcho.
Mãe: Isso. Esse mesmo. Não é bom?
Filho: Ééé mãe. Mas o treinador não quer.
Mãe: Por que? Você não disse que seria bom?
Filho: Deixa pra lá mãe.

Foi depois de presenciar esse diálogo entre mãe e filho, durante minha tradicional caminhada na Lagoa, que me atentei para o protesto marcado pela torcida do Flamengo, neste sábado, na Gávea. O motivo? Persuadir a diretoria, especificamente a comissão técnica, leia-se Luxemburgo, a aceitar a contratação do atacante Adriano. Protestar é um direito do cidadão. Seja ele rubro-negro ou não. É uma forma de expressar um pensamento ou indignação contra um fato, uma pessoa, uma instituição ou um governo. Desde que se respeite aquele que não protesta, ir às ruas é um exercício de democracia.

Mas, desde quando protestos de torcidas, organizadas ou não, tem algum fundamento? Legitimidade? Lembro sem nenhuma nostalgia, de uma época onde torcedores protestavam com violência. Foram muitos os vitrais importados - das Laranjeiras - destruídos pela ação de vândalos disfarçados de torcedores, vestiários invadidos, ônibus de delegações quebrados, cadeiras das arquibancadas destruídas, muros pixados e por aí vai. A pior forma de protesto: a burra. Com o cerco de proteção, as câmeras instaladas, as punições aos próprios clubes, o estatuto do torcedor, esse tipo de protesto foi diminuindo, mas, de tempos em tempos, para tristeza de todos, a “burrice que torce” se manifesta.

Depois de ouvir o diálogo, o instinto jornalístico falou mais alto que o desejo de manter a forma caminhando. Atravessei a rua e fui apurar o movimento. Pouco mais de vinte torcedores conversavam sobre assuntos variados e minha presença “a paisana” e devidamente uniformizada de “fitness” chamou atenção de todos. Uma vez no centro das atenções, aproveitei: “O protesto acabou?” Na mesma hora, um carro de polícia se aproximou do local. O policial, muito educado e um tanto quanto “apaixonado” declarou: “Pessoal, fiquei sabendo que vocês jogaram duas bombas aqui. Não faz isso não. O exército tá por aí por causa do cara lá dos Estados Unidos. Se ele pega um de vocês para bode expiatório, olha só a confusão que vai dar. Além disso, pô, isso queima a imagem do Flamengo. Não faz isso não.”

Bom, o carro de polícia se afastou e pude apurar com os poucos torcedores presentes, que mais cedo, o grupo era um pouco maior, e que realmente bombas haviam sido jogadas, e logo depois a maioria foi embora. Perguntei pelas Organizadas e fui informada: “Só veio um ou outro”.

O que se espera de um protesto da maior e mais popular torcida do Brasil? Uma quantidade de torcedores sem precedentes, certo? Elementar meu caro leitor. Esse tipo de manifestação por aqui não cola. Não espere caras pintadas de vermelho e preto ou preto e branco. Não espere uma passeata dos cem mil, ou um bom e velho panelaço. Por aqui, manifesto de torcida só acontece dentro do estádio: torcendo. Ou, por um motivo muito especial. Em um dia de expediente comum, na cidade do Rio, aproximadamente 20 mil torcedores invadiram pacificamente a Gávea para receber e festejar a chegada de um jogador. Para isso sim, torcedores se mobilizam. Ou por ingressos. Por eles grandes manifestações acontecem.

Retomei minha caminhada em volta da Lagoa. E contei, entre jovens, crianças e adultos que aproveitavam a bela tarde de sol: 10 camisas do Flamengo. Ao longo de 7.5km o “protesto” que declarava a paixão pelo clube falou muito mais alto. De qualquer maneira, é proibido proibir.

vmariano@beladabola.com.br

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